De modo inesperado, lúdico e um tanto desajeitado, deu-se então um delicioso contrariar de acordos tácitos, que em vão ansiavam por resguardar alguma sanidade em meio aquela desmedida invasão do novo.
Quando tudo mudou? Difícil precisar. Mas, precisar já não era importante. Sentir o era. No escuro, com muitas possibilidades de acertos para uma primeira vez.
Ela lembra de uma dor que antecedeu ao convite para o toque suave nas costas. O afago que alimenta a pele. Como se quisesse convidá-lo para melhor lhe conhecer, ela passou delicadamente a mão onde lhe doía. E pensou: bom seria se aquelas mãos existissem para além da contiguidade dos seus ouvidos.
Um ar carregado de quereres lhe escapa. E nesse momento a respiração descompassada anunciava o que queria irromper.
Ela não disse, mas quando ele pronunciou seu nome com intonação de quem quer se revelar mas do que convém, muito esforço ela fez para não amplificar seus ais. Da próxima vez, o suspiro que lhe fervilhava a boca, vindo das entranhas, não seria possível calar.
Profusão de sons e sussurros. O que era intensidade da pele pra dentro havia extravasado para cada canto do seu corpo e voz. Lânguida, retorcida e ofegante, ela cedeu a todos os convites que ele lhe fez. O existir definia-se nas ordens dele.
Quando tudo rodou e pouco importava se o algo naquele cenário fazia sentido, um quase-choro embargou seu gemido derradeiro.
...E ela conta que foi feliz para sempre, até o próximo recomeço.