sábado, 1 de dezembro de 2007

Dissimulação


E a televisão, mesmo de gosto tão duvidoso, anda me fazendo repensar sobre minhas escolhas, ou a repetição delas....

Como toda boa oitentista, eu cantarolei e muito a música Sonho de Ícaro. "Voar, voar, subir, subir..." E eu amei um amor inocente, puro e desmedido por um homem bem mais velho ao som do Byafra. Ai, como o amor era coisa de Platão, resolvi transferir todo meu querer para ninguém menos do que aquele que embalava meus ansêios, o próprio Byafra....rs

Riam todos. Eu também rir de mim ao me lembrar disso hoje, em frente a caixa mágica. Ele com aquele jeito meigo demais, voz aguda demais, trejeitos românticos demais era tudo o que eu desjeava ver no Cassino do Chacrinha [fazendo jús ao meus 31 anos vindouros]. E me veio o fato que desde muito cedo me rendi aos encantos dos homens delicados. O que será que essa escolha escondia?

Fazendo um retrospecto, percebi que o meu tal encantamento percorreu caminhos andrôginos também alcançou os assumidamente proibidos pra mim. Me lembrei de uma fala do meu cunhado: Por que tu só assistes filme de gays??? hahaha

Ele na sua santa ignorância de quem não sabe da existência de Almodovar ou Win Wenders me fez refletir. No que a dissimulação do ser diferente do que se é me fascina?

Ao certo, posso dizer que a possibilidade deste ser um post de uma homossexual inrustida, admitindo sua "escandalosa" orientação é ínfima. Não que eu seja um ser perfeito que não nutra preconceitos ou demasiadamente aberta para qualquer esperimentação, não é isso infelizmente. Mas posso dizer, com conhecimento de causa, que o diferente de mim me atrai. A possibilidade de completude e o preenchimento pleno que o outro gênero pode me oferecer me fascina. Sim, a representação do falo é perfeita aos meus olhos... embora tenham cruzado o meu caminho mulheres extremamente encantadoras dignas de alguns desejos, essas não forão suficientemente - ou por muito tmepo - aptas em aprisionar meus interesses.

Quem sabe a explicação para isso tudo já não tenha sido dita.

Dissimular é exercitar a atenção do outro. E também exercitar o poder que se possa infligir ao outro. Nos torna hipnotizantes, enigmáticos, bem-sucedidos, felizes, plenos... se todo processo tiver êxito e adesão daquele que se deseja atingir.

Eu já dissimulei paixão, dissimulei prazer e disso não me orgulho. Às vezes até dissimulo felicidade, contentamento e paixão novamente. E dissimular me fez sobreviver enquanto o desejado não chegava. Disso me orgulho, pois foi assim que me fiz mais forte, mais resistênte, mas certa do que quero, ou do que não quero.

Neste instante, a dissimulação da comunicação com alguém que me acalenta, me suporta "falar" tanto, como talvéz nenhuma comunicação real fosse capaz, acaba por me tornar um ser melhor, pois me vejo materializar em linhas e frases, em defeitos e belezas. Ao mesmo tempo, me leva a exercitar a outra cara posição:a escuta.

Ouça-me. Fale-me
Possua-me. Te possuu-o.






3 comentários:

Unknown disse...

"Ouça-me. Fale-me
Possua-me. Te possu-o."

Final arrasador! Fiquei com inveja, queria ter escrito esta frase...

Nos mulheres somos imbativeis na arte de dissimular. Usamos frequentemente esse poder com os homens, mas se tivessemos a consciencia da amplitude desse poder, poderia ser diferente, nao?

Voce esta se superando a cada texto. A cada revelacao vc tira seu veu, encontra seu timbre certo, seu tom. Daqui consigo ate ouvir sua voz.

Fez o pedido?

Acredite, aguarde e confie.

Feliz existencia e inspiracao para seus textos psicanaliticos e apocalipticos...

Bjs.

Cin disse...

Suas sentimentalidades despejadas assim de forma tão transparente e bela são dignas de aplausos.
Beijos e linda semana!

Paulo disse...

Continuo surpreso com a forma intensa e linda que consegue dar ao que escreve. Colocar os sentimentos dessa maneira é coisa para poucos. Parabéns!