domingo, 24 de fevereiro de 2008

Extras


O fim-de-semana foi de tranquiliadade aparente. Mais exercícios de elevação espiritual, para não brigar com filho, família e mundo. Mais e mais reflexões existenciais. De onde vim? Para onde vou??? Com que roupa devo estar qaundo chegar lá? Lá onde, mesmo?Confusões mentais a parte, sem dúvida, os dias de folga foram para acarinhar minha retina, tão negligenciada ultimamente. É, cinema é um quase-gozo.


Para mim, os extras de um filme, um bom filme, é como os segundos que antecedem a descoberta do presente, por de trás de um belíssimo e instigante embrulho. Ruim mesmo é quando a crítica de cinema meia-boca que me habita considera o filme indicado ao oscar, e ele não tem extras.... Pelo amor de Deus. Filme necessita de uma nota de rodapé, de um blablabla do elenco, uma intervenção do diretor, mesmo que ele seja o louco do M. Night Shyamalan - ele sempre me inquieta, seja de raiva ou me deixando com cara de débil mental, mas que ele parece louco, isso parece. E justo neste final de semana descobrir que só gostei dos filmes que vi, só lhes rendir reverência e credibilidade depois de ter devassado seus extras. Os filmes foram "Memórias de uma gueixa", de Rob Marshall e "Os sonhadores", de Bernardo Bertolucci. Vamos a eles.


Se você proucura um filme cult japonês, não veja "Memórias...". Nem de longe, de muito longe mesmo, ele lembra o último que citei aqui, "O livro de cabeceira". Mas para uma produção americana - não consigo conter por muito tempo meu ranço pelo cinema ameircano - ela sem dúvida é espetacular. Os caras podem mesmo gastar dinheiro, até por que Spilberg-midas é o produtor, e vocês sabem: dinheiro faz [muito mais] dinheiro. Além da maquiagem, cabelos e o clima das décadas de 30 e 40, o que mais me impressionou foi saber um pouco mais dos quimonos que as gueixas usavam. As gueixas, que na verdade eram artistas versadas em dança e música, além de estudadrem para serem bons entretenimento aos homens, quanto mais prestigio tinham, mas camadas de vestes elas usavam. Me lembrei de uma amiga que está no Japão e o registro que fez em seu blog sobre sua experiência em usar quimono. Como a pobre deve ter sofrido para ficar linda. Você sabia que as gueixas demoram até 1 hora para botar todas as peças de um quimono? E que elas, com o passar do tempo, mudam a cor do colarinho, de branco para vermelho, como sinal de experiência?
O mais o mágico mesmo foi vê-las sendo despidas com prática, e solenidade é claro, porque Japão e ritual são quase sinônimos, pelos seus donna - uma espécie de cavalheiro n°1 (não necessariamente amante) da guiexa. E tem ocidental que não consegue abrir um sutian...
Meninas, a contra-capa do DVD faz jus ao filme quando lhe cita como uma história de Cinderella diferente. Acredito que não há mulher que não se reconheça na força e foco de Sayuri. Ah, e os olhos do Presidente valem todas as agruras que a pobrezinha passa para se tornar A gueixa. Confira e sonhe.



Por outro lado, o filme do Bertolucci é mais denso, excitante e muito feliz ao situar a trama, um romance entre três jovens, em meio a um conflito político, cultura e ideológico na Paris de 1968. Ouvir um Je t'aime e outros tantos biquinhos, ao meu ver[ e ouvidos], já vale um cineminha, ainda mais quando a direção é impecável, os atores - que eu não me lembro de tê-los vistos mais gostosos - excepcionais e verossímel e a fotografia é fenomenal.


Como já havia dito, foi justamente a partir dos extras, que também este filme, tomou contornos perfeitos na minha preferência de "cinéfila". Vale a pena observar o minidocumentário, comentado em grande parte pelo próprio Bertolucci, sobre o fechamento da cinemateca francesa e os protesto estudantis em devesa do diretor da mesma, ocorridos em Maio de 1968, fato histório que é tomado como ponto de partida para a película. Destaco, como auge do filme as sequências em que Matthew (Michael Pitt) se nega a ser apenas um fantoche no mundo infantil dos irmãos gêmeos Theo (Louis Garrel) e Isabelle (Eva Green) e a última onde ele, também, faz cara de "a ficha caiu, numca fiz parte desse triângulo". Um adendo. Não sabia que o Bernardo Bertolucci era tão severo , leia-se escroto, com seu casting. Eu teria que fazer 386.000 exercícios de paciência por dia com ele.

Enfim, foi isso que descobrir nesse fim-de-semana que já está acabando. Mil emoções estimuladas de forma artificial, mas estimuladas, e isso é melhor do que não sentir nada. Esta semana espero estar mais animada com o trabalho, já que rezo a todos os meus santos para receber meus salários atrasados, e quem sabe, ter a certeza de que serei uma funcionária pública daqui há algum tempo.


No mais, mesmo que não pareça, meu coração ainda bate regularmente descompassado, ora de esperança e felicidade, ora de mágoas e tristeza.



Bons dias que virão para mim e para você.

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