sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sinto falta...

Sinto falta do tom de voz - quase posso ouvi-lo agora. Do falar compulsivo alinhavado com algumas risadas e muitos palavrões. Acho mesmo que eles - os palavrões - o ajudaram a nascer para o meu corpo, sentidos e pensar, nas outras tantas horas em que não nos falavamos.
Alguns homens me fazem acessar porções em mim que nem sempre estão disponiveis na solidez do dia-a-dia. Com uns rememoro segmentos nostálgicos. As musicas que colorem meus momentos mais particulares e introspectivos. Com outros me entrego aos deliciosos e entorpecedores vícios, porquê nem sempre é fácil (e saudável) estar vivo. Mas foi com você que meu hábito de escrever-me em papéis avulsos, livros e jornais encontrou refúgio. Era como se a certeza do entendimento alheio sobre o exercício me abrisse espaços para gritar, ainda que no silêncio, sobre aquilo que a ninguem devia interessar, somente a mim.
Então, escrever e ler se tornaram pontes para ti. E foi estranho querer continuar a travessia, mesmo sem saber quem exatamente me esperava do outro lado.
Vez por outra leio frases que se cravam nos sentimentos e na beleza do ouvir. Penso em te contá-las e compartilhar contigo a emoção do momento em que elas se inauguraram em mim. Mas lembro que a vida corre rápido demais para quem fica divagando... escrevendo... esperando.

domingo, 18 de abril de 2010

Seria o rolex

Minha doce dor se esconde
Por tras de um sorriso
Comprado, corrompido
Feliz fingido

Penso, dispenso explicações
Não controlo meu super-ego
Impossivel entender minha tristeza
Já desisti, não existe porquê
Sou apenas mais um alegre deprê

Busquei em vão
Identificar
Motivos para não
Querer de guardar


Moveis coloniais de acaju. Experimente... pra dançar, pra pensar e pensar... e pensar

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Escondido é mais gostoso

Você é novo no espaço. Preciso de um tempo para registrar os detalhes como eles merecem.  Vibro com os que me agradam. Os outros, tento minimizar, relevar.. Cabelos, voz, andar. Seu "licença" e "obrigado".
E ao fazer esta varredura que tanto me dá prazer, senti um estalido - eu sei, é o meu desejo - ao descobrir seus braços. Ah, justo os braços, o meu fraco. Não os musculosos, comprados em academias e nem os vistos de frente. Meu fetiche só se apresenta no especial momento em que o dono deles está se indo.
Maravilha é ver uma discreta musculatura nascendo na articulação do cotovelo. Lugar protegido do sol, onde se reconhece o verdadeiro tom e cheiro da pele. Macio por natureza. 
Essa imagem me atordoa, e não é de hoje. Imagino a força, a potência do braço e o que ele poderia fazer comigo. Inevitavelmente, tenho vontade de usar a boca. Morder, chupar, talvez. Mas sempre é a boca que admira esse exato angulo masculino que tanto gosto. É com a boca também que escuto ele dizer: morda-me, morda-me!!!
Devaneios, heim. Meu rosto deve ter mudado. Sinto toda lascívia moldando-me a face. Disfarço, colocando a mão na testa. Finjo concentrar-me numa leitura qualquer. Não quero que estraguem meu delicioso jogo voyeur que se reinicia a cada entrada sua na minha sala. Quero continuar assim, pseudo-absorvida no trabalho, quase invisivel aos olhos de todos, inclusive aos seus. Porquê escondido é mais gostoso.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Grades

As grades são familiares a mim, a todos. De alguma forma, num dado momento.
Escuto que elas, com o passar do tempo, podem se agigantar, roubar o ar, o sono, o ânima de quem as tem como sentinelas. Eu, do outro lado lado de algumas, lembro que esta sensação, por mais aterradora e infinita que possa parecer, é temporária, transitória. Como diz a voz de trovão com humor negro: por estas bandas ninguem se demora tanto que possa virar pedra para esse rota construção. E assim, o meu fazer se torna buscar na centelha do outro o intenso calor que possa motivar a ação, o pensar e, sobretudo, o sentir ajustado.
Mas quando elas se vão, as dúvidas em suspensão  corroem minhas idéias. Questiono-me se de fato acredito no que tento estimular no outro.
É inerente ao ser humano a tendência à adaptação, assim como a possibilidade de crescimento e criação de estratégias de enfrentamento às adversidades. Entretanto, porquê são poucos os que conseguem flertar com a felicidade (interrogação). Por que João se reinventa mesmo num meio estéril enquanto Antônio jamais saberá o que existe além das sombras no fundo da caverna (interrogação).
Mais do que se possa atribuir à ontogênese (e a filogênese) de quem se faça sobrevivente em meio a nossa guerra diária, eu me pergunto: como podemos verdadeiramente ajudar os que estão sob nossa responsabilidade ...pelo amor, pela imposição da vida, pelas leis, pelo sentimento de pertença...(interrogação)
Nos últimos dias tem me ocorrido que é uma imensa e, às vezes, ansiogênica atribuição, seres humanos de igual modo inacabado e regido pelas paixões, supor que podem redirecionar os que se amontoam e fenecem por não reconehcerem a alteridade, a especialidade do homem, em última análise, sua propria especialidade.
Confesso que há dias em que a desesperança me acompanha, não encontro respostas e o convite para "fazer de conta que se importa" me assedia.
Por sorte, estes não são dias frequentes.

domingo, 11 de abril de 2010

Dos desejos que se vão

Penso que os portos onde ancoro meus interesses são na verdade nuvens que podem se dispersar com a simples brisa. Mas nuvens são assim, inconstantes. Não posso culpá-las quando me percebo atracada no vazio.
Um chega e outros já partiram. E olho, continuo a olhar o que de fato tem por vir. O que me caberia. Desejaria.
Sinto muito quando reconheço a hora de partir. Porque sempre acredito ter chegado em algum lugar para repousar e me despir da persona que, de tanto uso, temo que não se descolem mais de mim.

Os beijos que nunca mando
O abraço que não permito acontecer
A busca pelo fim do caminho, quero merecer...

De mal a morte

Quem avisa, amigo é. Não confie aos muito próximos seus defeitos e fragilidades. Principalmente aos demasiadamente próximos do seu coração.
O grande problema é que, como o Russo, eu ainda teimo em buscar alguém que não use o que eu digo contra mim... E lá vai eu com minha sacola cheia de frustrações, e lágrimas, e vontade de quebrar a cara de um.
Para de buscar, pequena. Para!
E sim, só aceito ajuda especializada porque lá posso ser intensa, desprotegida e maldizer vocês sem culpa, por alguns minutos. E não, não acho que vocês sejam simplorios demais para me ouvir, no máximo, eu os amo perdidamente para lhes contar como e quanto me machucam; como preciso me expor ao perigo de desentegrar para enfim me edificar; como desejo estar longe porque os quero muito perto...E sim, admito que proximidade demais não é suportável pra mim.
Se me machuco é porque permito, mas, porra, dá para não sapatear encima.
Tá. Também te amo, mas vou embora.

Merecimento...

Há coisas que só o merecimento pode nos trazer, certo (interrogação).
Coisas simples. Insignificantes para uns, importantissimas para outros. E final percebe-se que tudo na vida acaba se resumindo a "merecer ou não merecer". É o doce jogo perverso de aprisionar o interesse alheio.
Um aumento no salário. Uma licença-prémio. Um filho bem criado. Um relacionamento maduro.
Despedida com um sonoro "beijo". É merecimento
Ser designado como amigo(a). É merecimento... e mais uma série de incertezas e risos compartilhados.
Parar o sinal. Só pode ser merecimento, depois daquelas horas a fio de tortura na academia.
A casa própria. Merecimento, e muitas vezes, muito, mas muito padecimento...
Sexo anal. Nossa, e põe merecimento nisso, por que admitamos, é inverter a ordem natural das coisas, embora uma subversãozinha seja sempre bem-vinda nessa vida.
Minhas lágrimas. Não, não é mereciemento, basta uma tpm ou um filho da outra para arrancá-las de mim.
Em meio a tantas pseudocertezas,  me pergunto: O que eu tenho feito para merecer o que peço ao mundo. Ou melhor seria, o que falta eu fazer  (interrogação).

sábado, 10 de abril de 2010

Silenciosa


Ando rouca. Voz enbargada e sumida entre palavras inacabadas.
Ela, a rouquidão, veio em boa hora. Meu som pessoal tem estado na fronteira da impessoalidade. Era um falar desgovernado, uma excessiva vontade de gritar, sem ao menos saber para quem.
Suportar o silêncio tem sido um estraho exercicio que ando me impondo. Sou mesma dos extremos. Quase sempre longe da tranquilidade do ponto central. Me acustumei com os sobressaltos e as emoções, mesmo que sejam de plástico oco, que se criam especialemente nas altas horas da escuridão, para ajudar a lembrar que viver é mais do que acordar pela manhã. 
Falar menos. Ouvir mais. Não ter a imperativa obrigação de conduzir ou revelar o que nem vale a pena dizer. Xiiiiii. Silêncio. O outrora insuportável silêncio.
Mas, infelizmente, tem me ocorrido com muita frequência que o amargo do não-dito é a indiscutivel solidão. 

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sentidos

Diga que fui eu a descobridora disso que te particulariza aos meus ouvidos, arfante chave das minhas palpitações.

Eu escuto e com ouvidos quase posso te contemplar. Meus sentidos têm sido reinventados após sua chegada. É o que posso dizer quando o ar me falta porquê tua voz teima em roubá-lo dos meus pulmões.

O que meu desejo quer, meus olhos não podem me dar. Mas seus ais vão me servindo de alento.

E quero descobrir além. Guardar na minha coleção de instantes todo o eriçar dos pêlos com a chegada do gozo. Presenciar o dado instante em que seus gemidos, que me fazem adormecer as mãos, flertam com um quase-choro. E chorar de prazer, Meu Bem, é ascender; ganhar um outro existir.

Mesmo sendo espreitada por meus fantasmas e limitações, depois de enfim te comer com os olhos, eu ariscaria três segundos de eternidade num abraço, para te acolher depois da guerra. A boa guerra.

...A ligação caiu. Também bateram à porta. Mas tarde tentamos novamente. E vou criando um "e se.."

Na bagagem

Vou desejando parar com os vícios. Largar os cigarros. Abandonar os gasosos. Dormir mais. Não buscar ligações perdidas no aparelho...

Praticar esportes. Diminuir o sal. Sanar as pendências. Voltar à igreja. Quero um novo eu resgatado do passado...

Respirar mansidão. Ser mansidão. Esperar com largo e tranquilo sorriso a exata medida da inquietação, quando não mais dolorosa ela seja sobre mim...

Rompi com o medo do silêncio, mas os olhares ainda me são dificéis de sustentar. O que cala revela. E os olhos podem não enxergar, embora sejam janelas abertas com vista para a admiração...

A mala que se fecha aqui, se abrirá com novas histórias no ponto de lá da viagem, que é a chegada.



Para meu companheiro de viagens, 
Márcio.