segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Caçando bolhas de sabão

O amor em toda sua delicadeza e matizes parece estar pairando no ar... mas, se ele não estiver, acabamos dando um jeito de pô-lo ao menos entre nossos últimos questionamentos antes de dormir.

Todos os dias, e isso não é um exagero, novas histórias de amor me são reveladas, muitas confidenciadas em virtude do meu trabalho... diante da minha suposta varinha mágica. Amores promissores, paixões arrasadoras, almas gêmeas que parecem se encontrar, mas não definitivamente. Milhares de possibilidades, milhares de sonhos, milhares de projetos de felicidade.. ou não.
E de repente, eu deixo de ficar remoendo minha solidão e tristeza pela última grande frustração amorosa e tomo um outro ângulo e espio um pouco mais sobre o drama humano na busca pela complementariedade no outro. Faço esse movimento não apenas por curiosidade profissional. O faço principalmente para encontrar o que há de comum a todos nós que desejamos o amor. Olho para o próximo na tentativa de melhor me ver.

Em todas as histórias que tenho acompanhado, o que tem me chamado a atenção é a negação dos sinais de "bater em retirada". Por que é tão dificl entender quando a relação - ou a expectativa dela - não execederá aquilo que já foi vivido? por que não tomamos conhecimento das limitações - ou falta do desejo - do outro em querer nos fazer feliz? Por que ainda depositamos a esperança de nossos corações nas mãos do outro?
Afinal, quem é o ser especial que a maioria de nós espera?


Freud vai dizer que esse ser é uma sombra da figura parental lá do nosso Complexo de Édipo, acima de tudo, a matriz que se cria dessa relação, mas e daí? no que isso, de fato, no ajuda a entender os caminhos que percorrem nossos desejos e idealizações no aqui e agora?


Eu que tento teorizar todas as minhas manifestações afetivas, inclusive a repressão delas, nunca intelectualizei minhas escolhas românticas, até que elas me levem a um lugar desagradavel. Será que o sofrimento pode ser evitado quando se trata dos assuntos do coração? Será que operacionalizar as intenções, a interação com o outro pode nos assegurar ao menos o não-sofrimento?


Profissionalmente eu poderia dizer que é extremamente saudável você saber o que te leva a um determinado padrão de escolhas românticas, sobremaneira, se elas estão te causando algum tipo de padecimento. É, pasmem, isso pode ser mudado. No entanto, isso não lhe garate o dito "e foram felizes para sempre". Quem garante que o para sempre chegará só por que você está consciente do que é e do que quer? Quem pode garantir que você é o que seu parceiro merece?
Infelizmente, ainda não cheguei a uma existência superior. Não tenho a metade dessas respostas

Sem dúvida, as idealizações que alimentamos sobre como deve ser o príncipe e a princesa encantada - não adianta dizer que não existem mais em você essas personagens porque elas sempre existirão em nós, seres desejosos - ou a relação perfeita, já comprometem boa parte das nossas possibilidades de encotrar paz na vida a dois. "eu nunca me interessei por um menino de 18 anos..., na minha terra isso que estou vivendo tem nome: puta... a minha relação com ela, minha alma gêmea, agora é só sexo..."

Como é dificil receber o outro em nossa casa como ele é.
O nó cego alheio é tão fácil de solucionar. O final da linha é tão claro.
Mas nada é tão simplório no homem. Suas emoções não poderiam ser. A dor do outro que sei bem como poderia ser superada, seu potencial e beleza tão evidentes pra mim, são totalmente negligenciados por seu senhor. Só posso me envergonhar das tolices e depreciações que também dirijo a mim.


Hoje vi o quanto o poupar-se, o proibir-se à doação, pode ser um perigo, principalmente quando aliado ao nosso desejo de cada dia de ser amado. Eu me perguntei novamente, pra quem, pra quando estou guardando toda a intensidade dos meus sentimetos?Será que, quando a hora chegar saberei viver tendo tão poucos treinos?


Espero muito ter ajudado com a minha escuta, o último amigo a sofre de amores, espero sinceramente ter ajudado-o a se perceber em toda a grandeza do que ele se transformou; a beleza do seu caminhar. Na melhor forma da tradição humanista, desse contato transformador ficou a necessidade de me permitir estar disponível ao que quero, abandonar a posição passiva do meu Conto, mas sem perder de vista os critérios que já sei que contemplam o que eu quero para a próxima promessa de amor. E isso não é a perigosa idealização novamente?


Então, que daqui pra frente ela seja mais amarrada na minha realidade e da pessoa pretendida. Chega de negar o fracasso pré-anunciado do velho modelo de relação. Eu não quero mais sofrer. Ai está o perigo de nunca mais amar.


E tudo que parece se buscar é o que nós alegra quando vem a nós.


6 comentários:

Borba Magalhães disse...

Até mesmo no amor, a esperança é um urubu pintado de verde.
Entretanto digo interessante ser tua profissão e teus esforços. Parabéns.

Mazane disse...

ô coisinha complicada é essa história de príncipe encantado, e o pior é a dificuldade de saber se a figura é o príncipe mesmo, como é que agente faz pra entrar numa história dessas de "e foram felizes para sempre"

Lamar de Alcântara disse...

Há muito tomei a decisão de não sofrer mais. E sim, fiz a opção de não mais me apaixonar. Devo isso cortes tão profundos que se confundem com escaras. É como se fechar numa bolha de sabão. Que ninguém a toque para que eu consiga me manter normal. Freud uma vez disse que é normal todo aquele que consegue amar e trabalhar. Bom... estou caminhando para a anormalidade... minha capacidade afetiva está cada vez menor. Fica difícil ignorar os sinais de que, assim como você, deixei alguma coisa la atrás em minha vida... espero, sinceramente, que ainda haja tempo para buscá-la!

Paulo disse...

É estranho. Busco, me decepciono. Me fecho. Cicatriza. Começo a nova busca. E o ciclo se perpetua, sempre.

Sentimentalidades-Todas disse...

Borba, Mazane Lamar e Paulo:

Fico muito feliz por ter sido capaz de faze-los se mostrar um pouco mais nesse espaço que não é mais só meu, é de todos quem vem e ressoam.

Também não quero e nem devo passar a vida sem evoluir numa determinada dimensão do meu ser, que convencionamos chamar de amor. Mas que esta espera não seja [mais do que já foi] angustiante, que nela não haja [mais] enganos ou forçosas experiências...

Quero não cançar demais ou desistir- e há dias em que estou quase - de sempre abrir e fechar ciclos como vc, Paulo....

Abraços queridos para todos

Anônimo disse...

Nossa Monica... AMEIIIIIIIIIII o texto!!! As vezes em meio ao sofrimento quebramos muitas 'barreiras' e acabamos por nos tornar pessoas 'diferentes'...