terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Livro de Cabeceira



Finalmente me permiti rever este belíssimo filme. Lembro que ao descobrí-lo há quase 12 anos ele me hipnotizou e enebriou como poucos, por sua fotografia, luzes e principalmente, pela dança do punho de Nakigo ao escrever com negra tinta os corpos de seus amantes. Com certa vergonha, devo reconhecer que se não fosse a insistencia do dono desse disco em discutirmos nossas percepções da obra, eu teria demorado mais algumas semanas até dar a minhas retinas tanta beleza.





Para quem nunca viu, ou ouviu falar, do filme O Livro de Cabeceira, vou a uma ligeira sinopse.




O filme, entrecortado de flashbacks, se passa no japão da década de 70. Nagiko, a poderosa Wivian Wu é filha de um escritor, e que desde cedo descobre o prazer de ter mensagens de felicitações escritas em seu corpo, estás, executadas por seu pai, todos aos anos, em seu aniversário. Está moça, que cedo se casa, não recebe aquele mesmo trato e afeição por parte de seu marido. As caras mensagens registradas em seu corpo, agora eram momentos felizes do passado. Contudo, Nagiko cresce e aparece. Busca realizar o sonho de se tornar uma escritora, ao passo que vive uma jornada erótica e obsessiva onde busca encontrar o amante que lhe dê prazer atravez da escrita em seu corpo. Eis que ela encotra Jerome (pasmém, Ewan McGregor), um tradutor inglês bissexual que lhe mostra um novo prazer. Deixar de ser papel para se tornar a pena.




O resto. Bom, o resto deve ser conferido, por que tenho certeza que jamais poderia traduzir ou fazer jus a beleza do filme com minhas linhas pra lá de tortas e mal traçadas.





Vamos ao que interessa aqui que é registar como meus olhos, agora aos 31 anos, captaram novamente tanta delicadeza.





Lembrei-me que eu já fiz muitas listas de coisas que admiro, que desejo e que gostaria de me tornar. Pedidos aos céus, a Deus, a Alá e companhia. Agradecimentos tantos, a todas eles, por tudo que eu já tinha conseguido naquela fase da minha vida. Vejo que hoje tenho tanto e coisas tão distintas do que eu poderia desejar ou supor que seriam minhas. E agora posso perceber mais intensamente o que Sei Shonagun dizia sobre a beleza de tudo que é azul-escuro. Sobre a beleza do que não é usual mas também não é raro






Compreendi mais da minha ansia por encaixes perfeitos. Boca, pernas e peitos que me façam gozar. É emergente que o gozo, quando ele chegue, que seja com os olhos, com o olfato e paladar. Não pode ser apenas um gozo fisiológico. Quero e necessito de um gozo-encotro, que nasce da admiração, da posibilidade, da entrega e do ver o outro. A cada centimentro de pele, a cada nova curva explorada, deve estar lá todo meu deslumbramento e atenção.






Não tenho falsas esperanças de que tudo isso seja meu novamente de imediato. Nem sei se já estou refeita para habitar tal domínio. Mas de certo, só falo do que me completaria, do que faria sentido sentir agora.



Entre tantos desejos, de ver outros países longiquos como o Japão, de ter um loft tão bem iluminado quanto o de Nagiko, foi sem dúvida do desejo do encaixe-perfeito, mesmo sendo tortuoso tê-lo e vivê-lo, de que mais me falou o filme, hoje e há 16 anos também. Livros de cabeceira sempre tive. Listas prosáicas e só importantes para mim, também. o encaixe, ainda perssigo


E mesmo que se passe muitos anos, algumas coisas realmente não mudam por aqui, o desejo é uma delas. Toma novas formas, novas vias, mas não muda. Mesmo que eu não quisesse admitiar, por ele minhas mudanças de rota, meus dias felizes e minhas madrugadas tristes. Eu venho apurando minha tinta, buscando novos papeis. Treze, vinte ou trinta e cinco livros mereço escrever.




Un homme change

Etrange

Parfait mélange

Doux

Parfait mélange

Sexe d'un ange



Um homem se modifica

Perfeita mistura

Doce

Perfeita mistura

Sexo de um anjo





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