quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O beijo que não dei


O dia iniciou com as rotinas de sempre. Acordar, preparar filho para escola, despedir-me dele. Tomar café. Olhei-me no espelho, algo denunciava que hoje não seria mais um dia normal.

Nesta madruga, um vizinho, colega de longa data, uma promessa debeijo, se foi.

E este 26/02/08 começou assim. Estúpido, grosseiro, estarrecedor. Doloroso, chocante, choroso.


Não me lembro de ter conversado mais de 30 minutos a sós com ele, não me lembro de tê-lo feito alguma confidência. Mas, mesmo sem ele saber, foi meu grande incentivador para que eu prestasse o concurso público que agora- felizmente - espero a convocação. Mesmo sem ter-lhe claramente permitido, cedi aos seus encanots de garoto maduro, descolada e calejado, que fumava desde cedo e já tinha o respeito dos senhores do Conjunto onde moramos [você morou].


Não sei se os bons morrem antes, não sei se ele era bom em algo, só sei que ele morreu jovem demais, prematuro demias, brutal demais para a compreensão de todos que ficaram. Me explica Senhor, como alguem pode morrar em tão poucas horas? como pode morrer por uma dividida na pelada de fim de semana?


Ainda pouco me contaram os bastidores do velório. A mãe sedada, a irmã descontrolada. O pai distante. Com certeza incrédulo de tudo que acontecia ao seu redor. uma inimiga de infância confidênciou para minha mãe que percebeu o quanto eu tinha ficado abalada com a notícia. Outro conhecido confirmou também com minha mãe se eu havia passado no concurso q ele, o falecido, também tinha feito. Mas o que ninguem falou, o que ninguem percebeu foi o susto que levei com a notícia. O grito de "te esperta" que levei do destino. Ele nunca foi uma paixão, só um tesão. Nunca foi tão presente, só em alguns esbarrões pelas ruas. Mas, e o beijo que eu não dei? O abraço que o pai não recebeu? O olhar de "vai com Deus" que a mãe não dará mais? E agora?


A vida é rápida demais, imprevisivel também. Quando não se espera ela acaba, é interrompida. Se evapora. Uma bala pode travessá-la, uma bactéria pode extinguí-la. E tudo muda, nada fica como era. As pessoas se embrutecem, secam por dentro, amargam.


Hoje lembrei de todos que julgo amar, aqueles outros que admiro, dos que só gosto. Lembrei do meu medo de morrer, da sensação de falta de ar que sempre me dá quando penso nisso. Lembrei dos encontros atropelados com o Diego pelas rua do condominio, da superficialidae das minhas relações. Da minha finitude.



E o dia terminou. Novo dia vem de pressa. Amanhã, uma nova chance de ser feliz... mas só para alguns.





Um comentário:

Marcus,o Olimpio disse...

essas coisas acontecem com amigos,familiares,a dor é a mesma.eu abraçei meu primo de 6 anos de manhã
e á tarde,quando eu estava na casa da minha tia,fiquei sabendo que ele caiu da escada e morreu.isso foi em 2005.Pra mim foi ontem.talvez eu fique com a impressão de que foi ontem pra sempre.